quinta-feira, 12 de setembro de 2002

SETEMBRO - 2002 - João Martins

JOÃO  MARTINS

ESTRANHAS  LEMBRANÇAS

Na mente da criança há tais mistérios...
Nem mesmo as mais ousadas teorias,
Vestidas dos propósitos mais sérios,
Fariam-me esquecer aqueles dias.
      Mas, foi assim: me lembro, era menino.
      Acontecia, como por encanto,
      Me achar no mundo que atraía tanto,
      De tão alegre, aconchegante e fino.
Todas as noites, o palácio, a lida,
Gente amiga em meus sonhos, bem vestida...
Ela, bela, solava um doce adágio.
      Eis que, de súbito, num mau presságio,
      O som do violoncelo emudeceu.
      Que pesadelo estranho ! Ela morreu...




YEDA  LEITE  DIAS

UM  ESPAÇO  APENAS

Tantas coisas me deste oh Senhor !
Foram coisas que eu nunca Vos pedi
No entanto, me ofertastes com amor
E as tenho, pois com elas já nasci.
      Tantas coisas eu tive de valor,
      Mas me escaparam, logo eu as perdi;
      Como adornos, objetos de decor...
      Foram perdas... enganos... mereci.
Detenho-me porém e a Vós recorro,
Por algo pelo qual alegre morro,
E nem Vós, nem ninguém nunca me deu.
      Este pedido franco, aqui Vos faço:
      Quisera ter a posse de um espaço,
      Onde eu pudesse enfim dizer : É meu.