Que adianta ser formiga diligente,
que trabalha e armazena pro futuro,
Se tenho a alma boêmia da cigarra
e só quero um tronco velho pra cantar?
De que serve esta ordem que me cerca,
por todos que conheço comentada,
se reina a desordem dentro d’alma
e confusão sem fim de sentimentos?
De que vale o silêncio ao meu redor,
na paisagem bucólica onde estou,
se dentro de mim ouço gritos de revolta
pela vida que levo a contragosto?
Ser formiga ordeira e silenciosa
para quem só conhece o exterior,
mas ser, no mais íntimo da alma,
estrídula cigarra negligente.
Não devemos, pois, julgar as aparências.
Rimos com vontade de chorar...
Nos perdemos muita vez na multidão
Fugindo quase sempre de nós mesmos!
Maria Conceição Arruda Toledo
Publicado no livro de sua autoria ( Página 206)
Memórias – Resgatando o Decênio – 2000-2010