Do filete vertical formam as quedas d’águas,
os espelhos aquáticos onde banham os Bem-te-vis
das minhas claras manhãs, porque poeta não tem
curriculum, tem inspiração...
Ah!...
Ah!... Se eu pudesse acordar tiritando
fustigada pela ventania
que me abre um véu no céu
e ver, no cimo dos montes,
o horizonte alaranjado,
e um radiante nascer do sol
que faz lembrar o seu sorriso
Ah!... Se eu pudesse pelos tórridos chãos,
cavalgar embevecida
ao encontro da felicidade
nas serenas planícies de capim molhado
e sentir o cheiro de estrume dos animais,
matando a sede nas nascentes
que murmuram no ar
sons e cantigas do nosso amor.
Ah!... Se eu pudesse ao entardecer na praia
caminhar pela areia, ir ao encontro do grande amor
e no enlevo molhado da brisa salobra
me perder na contemplação da imensidão azulina
e embalar nossas almas no doce balanço das ondas mar.
Ah!... Se eu pudesse, ao cricrilar dos grilos,
falar para a lua pelas nuances da noite
e contar-lhe como é dorido
ter calcinado nos pensamentos de outrora
um amor que nasceu ainda menino.
Poder provar de ti um beijo embora,
ainda que seja com sabor
do travo da silvestre amora.