LIBERDADE
AINDA QUE TARDIA”
“Libertas
quae sera tamen” – 1974 (repressão militar)
Não
posso ser dia nem tarde.
Pelo
contrário, estou no tempo
Errado
e preciso viver a liberdade!
Preciso,
afinal, voltar a viver
e entender
Como
é bom, afinal, ser livre!
Poder
falar do que sobeja a alma.
Lutar
pela vida e viver!
Não
perder tempo em controlar o amor,
Não
sofrer, não ter ciúmes,
Poder
ter posse, não ter medo!
Livre
para não me preocupar
Com
a preocupação.
Não
guardar mais nenhum segredo!
Ter
meu tempo, meu espaço, meu quinhão.
Ter
tudo o que é meu, ser minha, afinal.
Não
mais grades e muros,
Lugares
tristes e escuros,
Esperança
em fase terminal!
Não
posso dar o que quero,
Não
posso me dar a quem quero
Não
posso falar o que penso
Sem
medo ou perturbação!
Dar
o dom da fala, o fruto da minha pena,
o
meu olhar que perscruta.
Meus
ouvidos que ouvem mais que o som.
Meu
toque, minha intuição,
meu
afago, meu coração.
Livre
para viver, ir e vir.
Livre
para morrer.
Para
não ter medo de ser livre.
E
poder, enfim, voar para o infinito
E
não mais ficar na pedra da praia
Espalhando
cinzas carpideiras pelos cabelos
A
procurar seixos coloridos que não existem mais...
Silêncio...
Eles estão tristes...
Nem
posso olhar as estrelas
Porque
não estou livre!
Em
fins de Outubro de 1975
“LIBERDADE AINDA QUE TARDIA”
“Libertas quae sera tamen” – 1984
(ABERTURA POLÍTICA)
Meu tempo é a tarde
Que, em tempo, não se fez tarde,
Pelo contrário, está no tempo
Certo e preciso de viver a liberdade!
Livre para entender e saber
Como é bom, afinal, ser livre!
Poder falar do que sobeja a alma.
Lutar pela vida e viver!
Não perder tempo em não amar,
Em sofrer, em ter queixumes,
Em ter posse, em ter medo!
Livre para não me preocupar
Com a preocupação.
Não guardar mais nenhum segredo!
É meu tempo, meu espaço, meu quinhão.
Tudo é meu, sou minha, afinal.
Não mais grades e muros,
Lugares tristes e escuros,
Esperança em fase terminal!
Agora já posso dar o que quero,
Já posso me dar a quem quero
Posso falar o que penso
Sem medo ou perturbação!
Dar o dom da fala, o fruto da minha
pena,
o meu olhar que perscruta.
Meus ouvidos que ouvem mais que o som.
Meu toque, minha intuição,
meu afago, meu coração.
Livre para viver, ir e vir.
Livre para morrer.
Para não ter medo de ser livre.
E poder, enfim, voar para o infinito
E não mais ficar na pedra da praia
Espalhando cinzas carpideiras pelos
cabelos
A procurar seixos coloridos que não
existem mais...
Silêncio... Eles estão livres...
Eles viraram estrelas...
Porque eu estou livre!
Rachel dos Santos Dias |