terça-feira, 23 de abril de 2013

Liberdade Ainda que Tardia - (1974-1984) Rachel dos Santos Dias


LIBERDADE AINDA QUE TARDIA”

“Libertas quae sera tamen” – 1974 (repressão militar)

 Meu tempo está sendo a noite
Não posso ser dia nem tarde.
Pelo contrário, estou no tempo
Errado e preciso viver a liberdade!
 

Preciso, afinal, voltar a viver
 e entender
Como é bom, afinal, ser livre!
Poder falar do que sobeja a alma.
Lutar pela vida e viver!

Não perder tempo em controlar o amor,
Não sofrer, não ter ciúmes,
Poder ter posse, não ter medo!
Livre para não me preocupar
Com a preocupação.

Não guardar mais nenhum segredo!

Ter meu tempo, meu espaço, meu quinhão.
Ter tudo o que é meu, ser minha, afinal.
Não mais grades e muros,
Lugares tristes e escuros,
Esperança em fase terminal!
 
Não posso dar o que quero,
Não posso me dar a quem quero
Não posso falar o que penso
Sem medo ou perturbação! 

Dar o dom da fala, o fruto da minha pena,
o meu olhar que perscruta.
Meus ouvidos que ouvem mais que o som.
Meu toque, minha intuição,
meu afago, meu coração.

Livre para viver, ir e vir.
Livre para morrer.
Para não ter medo de ser livre.
E poder, enfim, voar para o infinito
E não mais ficar na pedra da praia
Espalhando cinzas carpideiras pelos cabelos

A procurar seixos coloridos que não existem mais...
Silêncio... Eles estão tristes...
Nem posso olhar as estrelas
Porque não estou livre! 

Em fins de Outubro de 1975
 
 
   
 
 

“LIBERDADE AINDA QUE TARDIA”

“Libertas quae sera tamen” – 1984

(ABERTURA POLÍTICA)
 
Meu tempo é a tarde

Que, em tempo, não se fez tarde,
Pelo contrário, está no tempo
Certo e preciso de viver a liberdade!
 
Livre para entender e saber
Como é bom, afinal, ser livre!
Poder falar do que sobeja a alma.
 
Lutar pela vida e viver!
Não perder tempo em não amar,
Em sofrer, em ter queixumes,
Em ter posse, em ter medo!
Livre para não me preocupar
Com a preocupação.
 
Não guardar mais nenhum segredo! 
É meu tempo, meu espaço, meu quinhão.
Tudo é meu, sou minha, afinal.
Não mais grades e muros,
Lugares tristes e escuros,
 
Esperança em fase terminal! 
Agora já posso dar o que quero,
Já posso me dar a quem quero
Posso falar o que penso
Sem medo ou perturbação! 
 
Dar o dom da fala, o fruto da minha pena,
o meu olhar que perscruta.
Meus ouvidos que ouvem mais que o som.
Meu toque, minha intuição,
meu afago, meu coração.
Livre para viver, ir e vir.
Livre para morrer.
Para não ter medo de ser livre.
 
E poder, enfim, voar para o infinito
E não mais ficar na pedra da praia
Espalhando cinzas carpideiras pelos cabelos
A procurar seixos coloridos que não existem mais...
Silêncio... Eles estão livres...
Eles viraram estrelas...
           Porque eu estou livre!
 

Rachel dos Santos Dias