Não tenho saudade do tempo passado,
nem do frescor da juventude perdida:
pele louçã, longos cabelos soltos ao vento,
olhos brilhantes encarando sem medo o futuro.
Tenho saudade da vitalidade física
com que desempenhava tantos misteres.
Tenho saudade da brutal coragem
com que enfrentava meus limites
no desempenho de árduas tarefas,
e lutas contra obstáculos e preconceitos
antepostos a meus objetivos.
Tenho saudade da firme determinação,
quase obesessiva, para recuperar um tempo
a contra-gosto perdido, que ficou lá atrás,
afastando-me de conquistas, sonhos,ideais.
Pergunto-me: se tivesse vivido a vida
“ em branca nunvem” teria tido garra
e coragem sufuciente para chegar até aqui?
Conquistado o pouco com que me contentei?
Ou, como a grande maioria de pessoas,
Acomodadas a um viver diuturno triste,
sem motivação, sem grandes alegrias,
paupérrima de espírito e calor humano?
Tenho saudade das batalhas enfrentadas,
das homéricas brigas em família
sempre compensadas pela calmaria.
Envelhecida, debilitada e só
recordo-me com saudade de noites
mal-dormidass e dias trabalhosos
que me diziam não ser fácil viver.
No entanto, vivi mil vidas
nas quase nove décadas
de uma existência produtiva.
por isso, só tenho saudade,
muita saudade de mim!
Maria Conceição de Arruda Toledo
Publicado na Coletânea
da Casa do Poeta de Campinas “ A Voz da Inspiração IV”- em 2009.